Com informações de: Correio Braziliense
A Esplanada dos Ministérios amanheceu ontem mais curiosa do que nunca. Nos gabinetes e nas repartições públicas, servidores vasculhavam os contracheques alheios no Portal da Transparência em busca de possíveis surpresas. A comparação com os salários dos colegas se tornou inevitável. Segundo funcionários ouvidos pelo Correio, de uma forma geral, a reação foi mais descontraída e encarada com naturalidade do que se esperava. Mas há quem se preocupe com o reflexo negativo que a ação pode provocar.
Quando o governo anunciou que iria divulgar quanto cada servidor ganha, o incômodo imediato foi com a segurança. “No meu setor, nos preocupamos com a ideia de que todo mundo pode saber nosso salário, não sei o que pode acontecer”, ressaltou a funcionária da Embratur Marcela Araújo. A cautela também é destacada pelo presidente do Fórum Nacional de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Pedro Delarue. “Todo mundo tem direito à privacidade, é uma violência divulgar quanto as pessoas ganham”, defendeu.
O receio, porém, não se manifesta no servidor temporário do Ministério da Saúde Arnaldo Ballarini. Ele diz não ter visto problema na ação de transparência. “Quem não deve não teme e minha vida não é privada mesmo. Como nosso salário é pago pelo povo, ele tem o direito de saber quanto ganhamos”, argumentou. “Não tenho nada a esconder mesmo, por mim pode divulgar à vontade”, completou o servidor do Ministério do Planejamento Wellington Terra.
“É preciso tomar cuidado com a comparação, porque ela induz a disputa dentro do próprio serviço público, quando temos é que nos unir”, afirmou Pedro Delarue.
Servidores de categorias que estão em greve ou rumo à paralisação comemoraram a divulgação dos salários. “A sociedade vai ficar sabendo dos salários precários que a maioria dos funcionários do Executivo recebe”, destacou a servidora Ana Daniela Neves, do Ministério da Saúde. Já Adriano Dias, servidor do Ministério do Trabalho, pondera que a população precisa saber avaliar os dados divulgados. “Estão dando muito destaque para os altos salários, aí parece que todos ganham a mesma coisa e as pessoas ficam contra os servidores”, disse. “Essa divulgação não vale nada se o governo não perceber que há uma distorção entre as carreiras que deve ser corrigida.”
Sindicalistas
Entre os representantes das categorias, não há unanimidade sobre os efeitos da divulgação. “Ela vai ressaltar o desequilíbrio de salários que existe no serviço público. Só assim vão ver que uns ganham a metade para fazer quase a mesma coisa que outros”, afirmou o presidente da Associação Nacional
de Defensores Públicos Federais, Gabriel Faria Oliveira. “É preciso tomar cuidado com a comparação, porque ela induz a disputa dentro do próprio serviço público, quando temos é que nos unir”, disse Pedro Delarue, da Fonacate. “Em um país de tanta desigualdade, publicar os salários individualizados dos servidores no momento em que se está negociando a campanha salarial é claramente uma estratégia para fragilizar o argumento dos servidores perante a sociedade”, José Ricardo, presidente do Sindicato dos Servidores do Banco Central no Distrito Federal.
Mas, em muitas repartições, o bom humor predominou. “Muita gente passou a manhã brincando ao ver quanto o outro ganha e eu também fiquei curiosa para ver os salários de quem conheço”, comentou Cláudia Fátima de Carvalho, servidora do Ministério do Trabalho e Emprego. Marilene Barbosa, do mesmo setor, contou que logo cedo recebeu o telefonema da irmã. “Ela viu que meu salário líquido é bem diferente do bruto, e ficou com pena. Aliás, se quiser divulgar minha conta, pode divulgar, pois aceito doações”, brincou.
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