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Entrevista – Vicente Falconi: “Quem não mede não gerencia”

Com informações de: Com informações: Luciano Pires - Correio Braziliense

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O Estado pode funcionar tão bem quanto uma empresa privada. Basta ter método, definir critérios para alcançar objetivos e cobrar resultados dos servidores. Vicente Falconi, especialista em gestão mais requisitado do país por governos e órgãos públicos, defende a adoção de novas práticas na administração como forma de estimulá-la a prestar serviços de melhor qualidade. Segundo ele, fazer mais com menos é uma tendência mundial. “É possível trabalhar as pessoas, trabalhar a máquina burocrática”, adverte.

À frente do Instituto de Desenvolvimento Gerencial, Falconi coordena equipes técnicas que estão espalhadas por quase todos os cantos do país. Cidades, estados e União se aproveitam de um receituário bem-sucedido, repassado pelos consultores, para tentar subir degraus na escala da governança. Não é fácil. Há resistências e os obstáculos são quase intransponíveis. Mudanças culturais custam tempo, paciência e demandam esforços, lembra o consultor. As influências e as interferências políticas também contam. “O político dá a direção, mas o dia a dia, a produtividade, quem vai dar é o servidor”, resume Falconi.

Atualmente, o instituto realiza trabalhos de modernização de gestão no Ministério do Desenvolvimento Social, no Superior Tribunal de Justiça – STJ, no Banco Central, na Polícia Federal, no Ministério do Planejamento, no Supremo Tribunal Federal – STF, além de governos estaduais de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro, entre outros. Leia trechos da entrevista concedida por Vicente Falconi ao Correio.


O que é preciso fazer para que o Estado seja eficiente?

A primeira coisa é definir qual é a missão, estabelecer indicadores, metas, comparar esses indicadores com outros lugares. Fazer o que uma empresa faz. Quem não mede não gerencia. Qual é a missão? Para que serve o Estado? Cada secretaria tem
de estabelecer seus indicadores.

 

Há espaço para a meritocracia?

Claro. Minas Gerais está fazendo, Pernambuco também.

 

Por que há tanta resistência?

De curto prazo. Minas Gerais, por exemplo, distribuiu R$ 200 milhões em bônus no ano passado. O sindicato aceita. Todo sindicato aceita que o gestor faça distinções dos melhores. As empresas têm os programas de participação de resultados, que são distribuídos de forma igual, mas algumas têm conseguido tirar um pouquinho dos piores e dar um pouquinho para os melhores, sem nenhum problema.

Esse modelo se aplica ao funcionalismo?
Por que não? Por que no funcionalismo não se aceitaria uma coisa dessas? Em Minas Gerais, é feito. Em São Paulo, há isso com os professores.

Os candidatos à Presidência da República têm falado do papel do Estado, de questões administrativas, da máquina de um modo geral. Esses assuntos remetem a uma possível reforma administrativa?
Não sei. Se eles estiverem falando da reforma administrativa com que eu sonho, é duro de fazer.

 

Com qual o senhor sonha?

Tinha de pegar todos os Três Poderes e reestruturar. Usar métodos que a iniciativa privada usa para avaliar cargo por cargo, com um número de pontos para cada cargo. Aí, seria possível comparar o que é pago no setor público com o que é pago no setor privado, para pagar de forma competitiva. Levando em conta que, no setor público, tem a questão da aposentadoria integral.

A reforma mexeria em salários?
Acho que um ministro deve ganhar muito mais do que ganha hoje. Um presidente da República, que tem responsabilidades imensas, também. A gente tem de acabar com essas hipocrisias e pagar às pessoas o que elas merecem ganhar.

O que o senhor acha da estabilidade do servidor?
Não tenho opinião formada, mas acho que ela não interfere. O que afeta o desempenho do servidor não é a estabilidade. O que afeta é ela perceber que está aprendendo, que está crescendo, que seu trabalho está sendo reconhecido. O servidor é igual a qualquer outro trabalhador. Todos são iguais. As pessoas se entusiasmam.

Como é a receptividade dos servidores quando as equipes de consultores chegam para implantar os projetos?
Estupenda. São os que mais lutam para que os contratos sejam renovados. Eles sentem que estão sendo valorizados, que estão aprendendo, eles passam a ter metas, a serem cobrados. As pessoas sentem que o trabalho tem função.

A gestão tem de vir de cima para baixo?
Sim. É uma regra geral. Se o presidente do órgão, o ministro, os chefes não estiverem convencidos, não tem jeito.

O Estado pode ser tão eficiente quanto uma empresa?
Sem dúvida que sim.

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